Thursday, June 15, 2006

Eu fui ao ABC e não morri (por pouco)

Terminou ontem a minha ida ao Annapurna Base Camp. Apesar de não ter muitas palavras para descrever o que aconteceu nestes últimos nove dias vou tentar fazer um resumo não muito alargado.
A objectivo era ir até ao ABC e voltar com vida. Isto basicamente.
Foram nove dias em que o lema "Quanto pior, melhor" se aplicava na perfeição. Chuva. Sol. Frio. Lama. Sede. Calor. Sono e exaustão. Floresta. Monte acima e monte abaixo durante 9 dias. Nunca tinha feito trekking na vida. Sou solteiro, bom rapaz e não tenho carta de condução. Adepto dos transportes públicos por isso passei toda a vida a caminhar. A ideia de caminhar monte acima não me era muito agradável já que o cansaço, pensava eu, não me deixa respirar as fotografias que aparecem a cada virar de trilho. Errado. Cada dia foi especial à sua maneira. Não só pela diferença de ambiente entre três horas de caminho mas também pelas mudanças rápidas de tempo e alterações repentinas dos trilhos.
Se pensarmos nas tradicionais bouças portuguesas apinhadas de.. pinheiros e eucaliptos, os típicos carreiros que as atravessam são auto estradas vazias quando comparados com os caminhos que percorri. Se em momentos havia realmente um percurso calmo e natural, rapidamente apareciam trilhos de rochas empilhadas de modo aleatório e afogadas em ribeiros temporários nesta época de chuvas. Lama, sanguessugas, calor e chuva foram determinantes na realização do "The worse it gets, the better it is".
Não fui à TROPA, nem sou escuteiro, mas por variados motivos sinto-me bem no meio do mato só com o meu canivete. Sério. Não é que consiga sobreviver só com sementes e raízes mas respirar o ar húmido e abafado no meio do nada com água pelos tornozelos é algo que me deixa relaxado. Mesmo quando a água tem alguma corrente e dois metros depois o ribeiro esbarra com um abismo que não me atrevi a espreitar.
Se quando era puto era adepto do "falta muito para chegar??" agora as coisas são diferentes. Porque nem sempre depois da próxima colina existe um ponto de paragem com abrigo da chuva. Nem sempre depois da próxima colina existe alguém que cozinha. Quando se está a cinco dias de caminho do computador mais próximo, amigos geeks, a vida muda! :) Para melhor..
O segredo era não ir carregado. Um saco com o básico seria o ideal. O ideal para mim era pesado. Resultado: não é que tenha nojo de usar os mesmos boxers durante dias a fio ou usar a mesma t-shirt molhada todas as manhas. Meias secas? Não obrigado. As botas só ficarão secas daqui a uns dias. O problema mesmo era o cheiro. Roupa molhada em sacos de plástico não é coisa boa.
Todas as dificuldades, incluindo a fadiga, eram ultrapassadas com o céu aberto e com imagens que gravei na minha memória bem como a sensação do dever cumprido de chegar ao destino planeado mesmo que isso significasse ficar baralhado com cruzamentos e rotundas naturais no percurso.
A manhã no ABC é uma bela página na minha vida. Não pelas cervejas da noite anterior a 4130 metros de altura mas pelo céu limpo e pelos esmagadores e sossegados montes que se esticam por mais quatro quilómetros de altura. Lindo. Não vou gastar mais palavras para tentar descrever algo que ainda me custa a digerir.
Não tive dificuldades em respirar mas nota-se alguma diferença o que me leva a pensar que o João Garcia e outros tantos devem ter qualquer truque para respirar lá no alto. Demais. Lembro-me que tive dores de cabeça quando regressava. Era sempre a descer por isso acho que sofri de low altitude sickness. Vou investigar e ver se realmente existe. É claro que podia ser fadiga ou apenas sol na moleira..
Mesmo a regressar lentamente quando os joelhos já se queixavam foi qualquer coisa.
É claro que são, segundo uns guias, 180 quilómetros de adrenalina.
Um must para todos aqueles que conheço.
Agora vou aproveitar uns dias para relaxar e ver futebol. Só tenho pena que não hajam tremoços nesta parte do globo. Tenho que me contentar com cerveja gelada de 65cl, toneladas de amendoins e gente de todo o mundo a torcer por equipas que não conhecem.
"Isto resumidamente, claro".

Para os interessados: a minha cruzada para recuperar o meu bilhete ainda não terminou. Algo me diz que terei que regressar a KTM e abordar o escritório da Gulf Air de maneira diferente. Como se diz no bairro.. "Atiçar os cães".

"Not to big. Not to small" - Resposta de um simpático nepalês quando perguntei de que tamanho era a pizza. Thanks dude.

8 Comments:

Anonymous Anonymous said...

A equipa da SWAT já estava quase pronta, mais uns dias sem noticias e já estáva-mos a caminho :D

Thursday, 15 June, 2006  
Anonymous Anonymous said...

ja mandei cancelar a novena...o mês de maria substituido plo mês de Salgueiro...o altar ja tá feito...ja tinha tratado dos papeis para deportar o corpo (se este nao tivesse paradeiro deskonhecido)...
ke nem Sayid!ou Lock!the others...been there.done that!

Thursday, 15 June, 2006  
Anonymous Anonymous said...

Nao te esqueças de trazer o chapéu e o nariz que deixei no ABC!obrigado

Millennium BCP
a vida inspira-nos!

Friday, 16 June, 2006  
Anonymous Anonymous said...

simplesmente gosto de te ler =)

xuacks*************** dri

Sunday, 18 June, 2006  
Anonymous Anonymous said...

Gravei a Final do "Dança Comigo"!tal como pediste!

Sunday, 18 June, 2006  
Blogger Filipaldi said...

Já tava a ver que tinha que me meter na Escort e ir até aos himalaias...
Para tares a par das novidades cá no cantinho há uma super bock nova! Super Bock Cool pra fazer concorrencia à chopp! :P Acho que desta acertaram no teu gosto! Tem menos gás! :)

Para recuperares o bilhete, não te esqueças que a ameaça de bomba funciona sempre!

Grande Abraço

Sunday, 18 June, 2006  
Anonymous Anonymous said...

Continuo à espera da versão audio...

Tuesday, 20 June, 2006  
Anonymous Anonymous said...

Still alive... I'm glad!
Bela experiência e lindas fotos! Espero que corra td bem nos escritórios da Gulf. Boa sorte.!

Wednesday, 21 June, 2006  

Post a Comment

<< Home