Thursday, July 13, 2006

Back from a dream


Como explicar por palavras dois meses de sentimentos e emoções diversas? Como responder aos curiosos "Como foi?" ou aos atrevidos "Divertiste-te?"? O que escrever sobre dois meses em que o meu coração esteve a todo o gás face ao desconhecido diário e os meus olhos viram imagens que nos livros não aparecem e que o imaginário por muito que tente, não se aproxima da realidade?
Parto assim para uma análise muito curta de dois meses muito longos que agora parecem ter terminado num ápice. Tudo o que é bom acaba rápido, diz o povo. E com razão. Apesar de ter tido momentos difíceis, sou suspeito ao desenhar um balanço de tudo o que aconteceu.
É impossível categorizar o que de novo se passou na minha vida, as emoções vividas, os olhares anónimos, o respirar numa realidade que apesar de ter sido vivida, parece agora pouco mais de um sonho numa manhã em que acordo ainda cansado e com sono. Foi real, eu sei e sinto. Foi intenso e tristemente fugaz. É este sentimento ao concretizar mais uma aventura que me permite agora, sem analisar todos os pedaços de história que escrevi nas recentes páginas da minha vida, dizer que valeu toda a pena do mundo. Valeu o risco do incerto e a ingenuidade de quem nunca viajou. Valeu o salto no escuro para descobrir cores e cheiros que por muitos livros que leia nunca conseguiria alcançar. Valeu logo no primeiro momento em que fechei os olhos e pensei: "Estou do outro lado do mundo...".
Agora que terminou, correria o risco de cair numa vulgar dissertação sobre as modificações que estes dois meses trouxeram na minha vida. Não o faço porque a frieza natural me diz que o choque cultural é apenas choque para mim e que a realidade daquele povo é inadiável mesmo que não goste de pensar que o que falta a muitas crianças não são roupas, livros e brinquedos mas sim comida e um abrigo diferente dos passeios junto às lojas e frente aos hotéis em que dormem os que não falam a única linguagem dessas crianças. A linguagem da sobrevivência.
Não escrevo sobre a construção humana pessoal que esta viagem me proporcionou. De nada me vale escrever sobre as fotografias que não tirei e que são mais fortes do que qualquer outro registo. De nada me vale falar sobre o que nos nossos padrões parece desumano e impossível de conviver com. A ninguém influenciaria positivamente ao escrever sobre as coisas que me tornaram o coração mais mole e modificaram a minha maneira de ver o mundo aos olhos de quem não pode, de quem não tem ou simplesmente a quem não deixam.
Como na Tv, as notícias de fome, guerra e morte são apenas mais algumas no conceito vulgar de algo que apenas acontece muito muito longe da nossa casa. A alteração dessa realidade é difícil apenas porque a alteração de realidades é por definição assim. Para evitar tal realidade nem é preciso mudar de canal, basta apenas considerar comum, usual e primário neste mundo. Não quero com isto dizer que vi o mundo ao contrário no Nepal. Antes o oposto, vi paredes pintadas de branco claro e sorrisos estampados em rostos de cor diferente. Não vi fome e morte. Vi armas mas não vi balas num país embrulhado em arame farpado. Vi demonstrações de opinião que num passado recente seriam impossíveis. Vi evolução. Vi um país do terceiro mundo e como tal, não vi abundância para os menos afortunados. Vi uma aproximação aquilo que teimei em não considerar vulgar e usual. Vi escassez e miséria para alguns e assim percebi que o mundo da televisão, livros e filmes tem cheiro, cor e som diferentes daquele que imaginara. Vi o Nepal com os meus olhos e isso para mim é maior do que qualquer livro que ficou por ler ou qualquer grande plano ou sonho que ficou por realizar.
São as saudades do Nepal e dos dois meses fora de Portugal que me dizem "foi qualquer coisa". Comi, caguei e vivi como um nepalês. Sinceramente, a liberdade de cuspir no chão, de tirar macacos do nariz frente a todos e de andar a pé descalço sem ter alguém a dizer que é incorrecto ou socialmente reprovável deixam-me agora a pensar em regras e jogos sociais que estão tão enraizados no ocidente que é difícil evitar mesmo que o conforto pessoal esteja em primeiro lugar.
Não me extendo mais em palavras que não chegam para explicar o que vivi. A maneira mais eficaz de sentir algum impacto da minha experiência é vive-la pessoalmente. Por isso escrevo:
Se algum dia tiverem a oportunidade de partir: Força! O mundo é grande, muito grande.


Resta-me agradecer a todos os que me atentamente seguiram estes dois meses diferentes da minha vida. A todos eles e em especial à minha mãe, um muito obrigado!



6 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Salgueiro, és o maior! Invejo-te pa ca29834lho! Pah, depois disto Pixies até parece algo bastante fútil, não? Bem, talvez não, mas isso não interessa! ;)
Parabéns pelas fotografias! Vê lá se registas a patente!

Grande abraço, do Nuno (caloiro da Cyntia)

Friday, 14 July, 2006  
Blogger hacktivista said...

É com estranha familiaridade e avassaladora nostalgia que me tento impregnar das emoções embebidas no teu último post.
A diferença (quando estamos habituados à indifirença).
A inexplicabilidade de um gesto amigo, terno e desinteressado vindo de alguém que nada tem e nada te pede.
O isolamento.
A paz de espírito.
A renúncia (inconsciente) à futilidade, o que quer se futilidade seja.
Os sentimentos que são exponencialmente mais rápidos, incomensuravelmente mais fortes e acutilantes.

Na vida só estamos felizes ou tristes, quando estamos em qualquer dos estados intermédios, não estamos a viver.

http://hacktivista.blogspot.com/2006/03/muito-obrigado-pessoa-que-me-mandou.html

Um abraço e parabéns!

Deves-me um fino. E quero o cartão de volta, estava a equilibrar a minha cama.

Saturday, 15 July, 2006  
Anonymous Anonymous said...

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Tuesday, 29 August, 2006  
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Sunday, 04 March, 2007  

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