Friday, May 19, 2006

Paciência

Já me tinha apercebido que os funcionários nepaleses levam o seu tempo a fazer as coisas que os ocidentais podem considerar rápidas. Quando fui buscar o saco ao aeroporto, depois de assinar folhas em nepalês, tive que esperar que os funcionários acabassem de falar sobre o cultivo de tulipas na época das monções. Consigo viver com isso. Quando quero comprar alguma coisa numa loja fora da zona turística sei também que tenho que esperar se algum nepalês chega depois de mim e é logo atendido deixando-me "on hold". Consigo viver com isso. Quando vou comer qualquer coisa e me trazem a bebida e só depois de terminada (o que até pode levar uma eternidade) é que servem a comida. Consigo viver com isso. Lembrei-me das horas de espera no dentista. Horas à espera de autocarros ou para comprar um qualquer bilhete para um jogo de futebol importante. Lembrei-me das esperas na loja do cidadão para tirar o cartão de saúde. Lembrei-me da espera antes dos exames. Lembrei-me das filas de trânsito quando Famalicão - Trofa demorava 3 horas. Não consigo ainda explicar o quão terrificado fiquei quando fui pela primeira vez ao escritório da Gulf Air Nepal para tratar da perda do meu bilhete. Como a Gulf Portugal me tinha dito que é apenas um procedimento simples e rápido não fiquei muito preocupado. Agora a coisa está diferente.
Depois de ter recebido ás 14horas o bilhete de atendimento 77 fiquei surpreso. Na segurança social numa qualquer loja do cidadão é necessário tirar senha de manhã se queremos ser atendido no mesmo dia (isto durante alguns meses). Quando reparei que ainda ia o 22 pensei que teria que esperar um pouco. Sem problemas. Música. Livro. Tava-se bem. Ouvi música. Li. Adormeci. Voltei a ler. Voltei a ouvir música. Voltei a adormecer. Quando acordei, isto umas três horas depois de ter entrado, ouço: "Thirty four". FUCK!!! Não podia acreditar. Se com os seis postos de trabalho ocupados demoram este tempo, com apenas 3 pessoas a trabalhar vou passar o resto da vida aqui, pensei. Sei que alguns processos são demorados. Eu queria apenas tratar de reemissão do bilhete ou alteração da partida mas ao ver que de cinco em cinco minutos um ou outro empregado se refugiava atrás do sinal "Staff Only" percebi que a situação já tinha passado para além de um simples stress test. Entrei em pânico. Senti-me como nunca me tinha sentido. Já só pensava em alterar o regresso para o mais breve possível. Não aguentava mais ter dois nepaleses colados a mim. Não aguentava as
questões vulgares ("you marry?" ou "how much you win?")! Tive que sair o quanto antes.
Amanhã volto, disse para mim. Já cá fora e depois do pânico, percebi que a situação estava longe de ser resolvida. Teria que voltar no dia seguinte, bem cedo!Ás sete e pouco da manhã já lá estava eu. E mais 10 nepaleses! Como já estava mais animado tive umas conversas agradáveis. Apesar de não ser fera em Nepales, já me vou safando sem a ajuda das minhas cábulas. Como o escritório só abriria ás 9horas e 30 minutos tive tempo para bastantes coisas, inclusive dormir.A espera até ser atendido foi passada a fazer a contagem decrescente para o meu número.
"Eight" - "Sou eu !!!!!". Pensava que a pior parte já tinha passado. Errado. Após uma meia hora a procurar não
encontraram os meus dados. "Not here". "Eu tenho reserva. Tem que estar. É este o voo".
Estupidamente não tinha fotocópia do bilhete (apesar das 30 vezes que me lembrei antes de partir) e encontrar o meu nome no voo de regresso estava difícil. Uma hora depois e nada!Resolvi contactar a Gulf Air Portugal para ver se me davam uma ajuda. Estou à espera!O segredo para não esperar muito é chegar cedo. Para tirar o visto indiano tive que esperar na primeira vez uma hora (e acho que fui a quinta pessoa a ser atendida). Hoje cheguei uma hora e meia antes de abrir. Fui a segunda pessoa mas mesmo assim estive uns 40 minutos para tratar de tudo. ???? . Logo vou buscar o passaporte e espero não ter que apanhar grande seca!
A palavra é mesmo: PACIÊNCIA!
Com isto tudo não parti para a aldeia ainda. Muito possivelmente amanha. Aproveitei para me perder pelas ruas da capital mas sinceramente já estou um bocado farto de vaguear por cá. O objectivo principal, voluntariado, ainda não foi cumprido. Em breve.Entretanto tenho tido grandes conversas com outros voluntários e viajantes. Terry, um simpático britânico com 60 anos e que já viu todas as bandas que eu nunca puderei ver (por terem acabado) apresenta-se em tal forma que acho que facilmente chegará aos 100. "It's the
beer, you know?".
Não gosto de fazer balanços. Muito menos quando as coisas ainda nem a meio vão. Posso dizer que apenas confirmei que existe tanto para ver neste mundo que não vale a pena ficar preso pelas influências sociais. É claro que existem prioridades, mas isso é outra conversa.
Como tenho passado mais tempo na Happy Home as crianças estão agora mais.. happy. Já dançam e cantam. Adoram quando chego e ofereço balões ou outro objecto mas uma banana ou algumas bolachas são para elas motivo de alegria. Estas crianças, posso dizer, são priviligiadas. São muito pobres. Nunca na vida teriam a oportunidade que estão a ter se não fosse a INFO Nepal. Apesar de ser um negócio (tema para conversa de café quando regressar), esta ONG está empenhada em ajudar. Neste momento estão a pagar estudos e melhores condições a 90 crianças. Apesar de nem tudo serem rosas, é obra!
Arrisquei numa noite de dança ao som da música tradicional deste país. Imaginem cantares ao desafio (uma arte portuguesa) mas noutra língua e com muito mais melodia. Apesar de estar "algo" sóbrio, diverti-me imenso com a cambada de bêbados que se tocavam com a maior das naturalidades. É o chamado choque cultural! Já estou habituado mas por vezes a situação passa o meu limite virtual. Tenho alguns conhecidos que gostariam de estar cá para "ver":)
Aventurei-me pelas ruas e comi em muitos cantos. Até agora nada de problemas com a flora intestinal. Não como carne há bastante tempo. Aliás, estou a adorar a comida nepalesa. Tenho que aprender para depois cozinhar para os meus amigos e os ver a comer com as mãos.
Já encontrei taxis com taxímetro a funcionar. Como agora conheço ligeiramente os cantos à casa sei que a diferença entre regatear e usar o fiável taxímetro é grande. No entanto estou longe de pagar 6 euros por uma corrida de 5 minutos em Braga!

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Eh Eh! Quando estiveres meia hora à espera pra pagar a água na loja do cidadao vais achar q o nosso país evoluiu muito!! :)
Bj grande, Ana

Saturday, 20 May, 2006  
Blogger xicopovoa said...

E eu k pensava k era só em Portugal k estas merdas demoravam uma eternidade... Tou a ver k até somos bastante rápidos... Força aí

Thursday, 25 May, 2006  

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