Saturday, May 13, 2006

"Chitwan, 11 de Maio de 2006

Depois do madrugador pequeno almoço, eu e os dois guias já estávamos prontos para, na jangada, ir rio abaixo. Ás seis e vinte da matina já eu rezava para aquele pedaço de madeira não virar. Evitei fazer movimentos desnecessários mas a cada endireitar de costas ficava branco. Foram uns belos 50 minutos ao som do rio, dos pássaros e das remadas. Tivemos a sorte de avistar um grande rinoceronte e um crocodilo. "Good Karma sir". Aves? Dezenas de espécies que apenas conhecia pelas imagens dos mais afortunados.
Encostamos do lado da floresta e minutos depois já estava em suor naquele calor húmido e encharcado pela água que a erva preferida dos elefantes tinha apanhado durante a noite. Sentia-me bem. Finalmente cumpria outro antigo sonho. Ainda que parcialmente. Embrenhara-me na floresta.
Os guias transportavam desde a partida dois longos paus. Tinha que me munir também. Andar desprotegido não tem mal nenhum mas um pouco de segurança também não faz mal. Apesar de todas as horas de vida selvagem e de todos os documentários da National Geographic que vi, não havia melhor momento do que aquele que estava a viver. O calor, os cheiros, os sons que nunca tinha ouvido. Tudo ali, ao vivo e a cores.
Toda a atenção era pouca diziam as expressões faciais dos dois "nativos" que gentilmente (65 USD de gentileza) me acompanhavam. Dez minutos de floresta a dentro e já com um belo rio a meu lado pensava eu: "mas que belo mergulho". Brincadeira porque a menos de dez metros um grande crocodilo mostrava a sua insatisfação pela invasão.
Tinha começado muito bem. Melhor (leia-se "pior") ficou quando um quilómetro ou dois a diante, enterrados pela comida gigante dos elefantes os guias pararam repentinamente. Eu, já de pau na mão, só pensava "venha ele". Era um barulho , algo estava perto de nós, as ervas mexiam-se e eu estava algo, digamos, acagaçado. Se fosse um tigre, não havia árvore que pudesse subir e corrida que pudesse dar. Os tigres atacam por trás e eu não conseguia perceber de onde vinha o barulho. Subitamente um estrondo. Afinal era um pavão que por lá andava e eu estava com medo que um tigre me comesse pela frente, ou por trás. Dass.
Já caminhavamos há pelo menos meia hora quando outro ponto alto aconteceu. Ainda que por alguns segundos. Com a atenção redobrada, outro grande barulho se fez sentir. Num ápice, três javalis atravessam-se à nossa frente. No máximo só os vi durante dois segundos. Não consegui acreditar que apenas três criaturas fizessem tanto barulho e tivessem um cheiro tão intenso. Todas as conversas que tive com o Natas sobre javalis vieram ao de cima. Se viessem contra mim, não teria tempo de reagir. Lindo.
Uns quilómetros à frente e a pingar suor, vi outra imagem que sempre desejei presenciar. Ao início não me apercebi. Olhei para onde os dois guias estavam a olhar. Ouvi. Respirei. Nada. Eles olhavam serenamente para as árvores. Eu só pensava no mítico "Turn around. Turn around" do Predador I. De repente uma cambada de macacos que acabara de dar conta da nossa presença começa a saltar de galho em galho. Lindo. O barulho dos ramos a estalar. Não há disto no zoo.
Já misturado no meio da erva gigante, e comigo na frente, seguimos caminho até que assustadoramente e sem nenhum outro sinal, um respirar muito pesado e igualmente próximo se fez ouvir/sentir. Para os guias que recuaram apressadamente algo estava mal. Eu, embalado pela adrenalina, desejava ir em frente para confirmar o que pouco depois ficou claro. Recuei. O senso comum levou a melhor mas agora enquanto escrevo ainda sinto o barulho que ouvi. Contornamos o local e excrementos frescos e grandes pegadas de rinoceronte confirmavam a dimensão do animal. Estive tão perto.
Uma hora e algumas histórias depois, estava do outro lado do rio para aquele que seria um momento que considero indescritível. Sentir o meu corpo colado ao corpo de um elefante enquanto mergulhamos é algo que por mais palavras que utilize, não consigo descrever. Foi sem dúvida uma das melhores coisas que fiz até hoje. Subir para o seu corpo com a ajuda da tromba valeu pelas 7 infernais mas divertidas horas de autocarro até aqui e pelos quatro hóspedes a mais que o meu quarto tem. Quatro lagartos. Daqui a pouco vou almoçar e seguem-se umas três horas em cima de um potente e todo o terreno.. elefante."

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

tou sem palavras. apenas 1 sorriso =) **

dri

Sunday, 14 May, 2006  

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