Thursday, May 25, 2006

Kaskikot, 24 de Maio de 2006

"8.45- Ontem foi grande stres para adormecer. Não era o medo dos ratos que me mantinha acordado mas sim o barulho infernal que estes faziam. Raios. Parecia que estavam numa batalha campal. Guinchos e mais guinchos. Corridas na chapa do telhado. Não faço ideia de quantos eram mas eram bastantes.
Acordei às cinco com o professor a canta e com as crianças aos berros. Paciência. Se fosse em minha casa ja tinha mandado alguem para o cu de Judas. Ou perto. Como sou convidado, paciência. Voltei a adormecer. Acordei. Adormeci. Acordei. Foi assim até ouvir gritos por parte de toda a família. "Não me digam que o monte vai ceder". Vesti-me a corre e já cá fora vi o que parecia uma dança tradicional tipo YMCA. Afinal, duas lingas águias ameaçavam as galinhas. Juntei-me a eles para defender o território. Só aqui.
O meu primeiro dia de aulas não foi propriamente normal. Era dia de "Cultural Programming" e várias escolas competiam entre si para melhor música, melhor dança e melhor discurso. Apesar de demorarem tempo a agir, os nepaleses estão sempre prontos para discursar. Torna-se hilariante vê-los a gesticular sem perceber nada. Quando concordam ou gostam batem na mesa.
Conheci Marion, francesa, 8 meses mais nova do que eu. Seguidora de Jah e voluntária em vários países africanos e asiáticos. Nem sei como descrever a personalidade dela. É uma cidadã do mundo e tem bom coração. Está encarregue de tomar conta de cinco filhas de uma família muito pobre, para além do trabalho na escola. Ela é que se disponibilizou para tomar conta das pequenas. A mais pequena, com 18 meses, parece que tem apenas 6. Quando nasceu, e por não ter sido rapaz, a mãe tentou matá-la. É azar nascer mulher aqui. E é mau não ter filhos. Quando as filhas se casarem com os noivos "arranjados" partem para outras bandas e os pais ficam sozinhos.
Enquanto dava de comer à pequena (biscoitos com arroz e sumo) conta-me sobre a sua filosofia. Não come carne, peixe, ovos nem bebe leite. Fala apaixonadamente da vida e da entre ajuda. Voltou porque está apaixonada por este local isolado do mundo. E com razão. Penso agora que aquela mulher com rastas, mete no bolso a maior parte de pessoas-com-rastas-que-eu-conheço ou que vejo nas esplanadas em Braga. Estilo é uma palavra.
Vou almoçar.

17.10 - Hoje foi um longo dia de escola. Já tinha visto a escola por fora e parecia-me muito fixe. Como me disseram que as aulas começam às 10 horas cheguei um bocado antes. Outro choque cultural. Não podia acreditar que as crianças tivessem aulas nas quatro salas com aquele aspecto. Apesar de, devido a muitos motivos, as crianças estarem sujas, não existe justificação para as salas estarem imundas. Existir até existe.
Como ainda só tinham chegado algumas crianças, decidi pôr em prática os ameus dotes de dona de casa e tornar a escola mais limpa. Vinte minutos depois estava a pingar do nariz devido ao pó, e a suar. A primeira sala já estava.
Enquanto limpava a segunda sala decidi criar um pequeno exército de "limpadores" e, utilizando as belas técnicas de praxe, criei um bloco de crianças instruídas para apanhar tudo o que fosse lixo. Resultou!!
Quando estava na terceira sala, e já com uns sacos cheios de lixo (que provavelmente foram parar ao monte) o director da escola apareceu com uma professora. "As aulas começam às 10 horas!!", pensei. Lembrei-me do que Vicky Sherpa escrevera em "Uma professora em Kathmandu". O director da escola dela era um cabrão dos grandes. Malaka. Este, "o meu director", ajudou-me a arrumar os bancos e pegou numa típica vassoura.
A escola não ficou um brinco mas está bem melhor.
O desenvolvimento não depende só dos materiais. Essencialmente depende das pessoas, da energia e da educação. Ao ver a biblioteca fiquei parvo. Montes de livros muito fixes. Histórias, contos, ciências..
A maior parte deles difíceis de mais para o nível de inglês destes putos.
Já nas aulas apercebi-me de que não existe um plano curricular concreto e que a base da aprendizagem é, talvez como em Portugal, decorar. Tão facilmente respondiam correctamente à pergunta "How old are you?" como disparavam um "I'm fine tanque you". Obviamente decorado.
Não percebi o método, se é que exite, utilizado por aqueles professores. Alunos de 12 e 7 na mesma turma. Aulas de dez ou vinte minutos. Enfim, o tempo de decorarem qualquer coisa.
Acho que, com todo o respeito, para ser professor no Nepal, basta ser nepalês. Para ser um bom professor, a história reza de maneira diferente, só pode.
Marion contou-me que apesar dos recursos não são realizadas actividades. Apercebi-me disso quando espreitei para o armário dos professores no escritório. Um monte de lápis de cera novinhos em folha. Juntando a isso os livros de pintar que existem na biblioteca e que nunca foram abertos, apeteceu-me pregar uns murros aos chamados adultos. Perguntei porquê. Nada.
Ainda tinha um trunfo para jogar. A plasticina. Nunca antes professores e alunos tinham visto tal material. Desde elefantes, cobras e aviões, até pessoas e barcos. Tentei fazer de tudo. Só queria que o "Chicobom" cá estivesse para fazer 200 objectos em 10 minutos.
Sou um dorminhoco porque acordei às sete da manhã. yuppi!"

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

ja fizest as contas?

Thursday, 25 May, 2006  
Anonymous Anonymous said...

Aí no cú de judas limpas tudo!na tua casa em braga é o que se sabe...sacos do lixo pendurados pla janela...montanhas de pó!
traido
tenho a cerveja à espera

Saturday, 27 May, 2006  

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