Thursday, May 25, 2006

Sarangkot, 22 de Maio de 2006

"Foi uma sorte ter mantido o bom espírito com que me deitei ontem. Apesar de ter acordado com bastantes dores por causa da sinosite, sabia que este dia iria ser importante. Iria mudar-me para a aldeia e não podia estar com a moral em baixo como aconteceu em Sanga.
Após ter tido alguns problemas com as ATMs locais e ter visitado um ponto de referência em Pokhara (o que me custou os olhos da cara e até nem é uma gruta tão altamente como li), comi uma última refeição ocidental antes de viciar a minha dieta com a comida nepalesa. Pizza!
Como a pessoa responsável por mim não se pode deslocar à cidade, meteram-me literalmente num autocarro atulhado não só de gente como também sacos de batatas, cabras e bodes entre outras tantas coisas na parte de cima. Como já tinha reparado, existe sempre lugar para mais um, dois ou dez.
Após terem comunicado ao motorista que teria que me avisar no local de saída, fui abandonado pela única pessoa que falava algum inglês. Meia hora depois estavamos num caminho a que nós, ocidentais, chamamos "caminho de cabras". "Na Europa só de jeep aqui", pensei. Inacreditável.
Um autocarro, atulhado de gente, a cinco à hora monte a cima numa escada cavada pelo tempo, é obra. Ao som de música nepalesa quase a rebentar com as colunas, é de filme.
Uma hora depois fui abandonado no meio do nada. "Sarangkot", disseram. Saí. Vi apenas algumas casas típicas. Não queria pensar que estava sozinho no meio do nada, com meio litro de água, 26 quilos de bagagem e a pingar suor. "No que eu me vim meter".
Era suposto álguem estar à minha espera. como já estou habituado, comecei a caminhar rua a cima (aka monte a cima) até encontrar algumas pessoas. Perguntei pela escola. Perguntaram-me qual delas e disseram que a mais próxima é a três km. Eu, carregado, sorri. Após ter chegado à escola e já com dezenas de crianças em meu redor, perguntei se era ali que esperavam um voluntário. "No". "Tou f*d*d*". Uma professora de vinte anos levou-me até casa dos pais e ofereceram-me chá. Bebi um chá de leite com bastante gordura. IAC. Mais tarde o irmão dela iria-me conduzir ao telefone mais próximo, 50 minutos, para poder contactar a INFO e resolver o meu problema "no meio do nada mas com grandes vistas".
Vinte minutos depois encontramos um senhor que gentilmente, a troco de €, me deixou utilizar o seu telemóvel. Como não havia rede tivemos que caminhar mais outro tanto.
Depois de resolvida a situação, já com o nome da pessoa que me iria acolherm voltei à casa onde tinha os sacos e fizemo-nos ao caminho.
Simpaticamente, o irmao da professora, Bakhar, ajudou-me com o saco mais pesado. E ainda bem. Entre pedras e buracos, ia saltando com uma facilidade que me deixava envergonhado. Eu, com o saco pequeno, estava daí a pouco cansado e perdido pelo esforço. Ele, com uns vinte quilos às costas, sorria e gabava-se do trabalho duro que fazia. Explicou-me que por vezes carregava monte a cima com 40 quilos de arroz. "If we want to survive we need to work", disse-me num inglês claro. Boa gente.
Uma hora e vinte descanços depois (por minha culpa) estava entregue.
Obrigado Bakhar."

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