Kathmandu, 2 de Maio de 2006

Pensei sobre o que fazer com este espaço. Uma vez que o meu diário contem informação que não gostaria de ver publicada, apenas seleccionarei, se tiver o tempo e a oportunidade para tal, as passagens que considere mais importantes. Assim, utilizarei este espaço para escrever directamente quando me ligar ao resto do mundo. No sitio onde costumo ligar-me a Internet ]e extremamente barata. 15 Ruppias a hora. 17 cêntimos!! E claro que a ligação não e do melhor (ainda não consegui fazer o upload de imagens - já fiz alguns bons disparos:) vou procurar uma ligação melhor). O Nepal ]e muito fértil em boas imagens. E ainda só estou na capital, quatro dias depois da minha chegada.

Aproveitei a tarde de sábado depois da sesta, para conhecer a cidade. Isto porque, apesar de estar em Paknajol, mesmo ao lado Thamel, a zona mais turística, e consecutivamente mais cara, a verdadeira Kathmandu não e aqui. A diferença de realidades acentuava-se a cada quilómetro feito. Mulheres partindo pedra e carregando pilhas de calhaus estrada fora. Crianças descalcas, sujas e no entanto com um ar tão puro. Pobres dormindo nos passeios mesmo com o barulho quase teatral dos carros e centenas de pessoas a passarem. Cuspir no chão aqui ]e tanto habito como vicio. E usual verem-se homens de mao dada e outras
demonstrações de carinho em publico. Beijos na face. Carinhos no cabelo. Não se trata de homosexualidade mas apenas bem estar entre as pessoas. No entanto, nao se verifica o mesmo com as mulheres. São como que deixadas de lado e o trabalho pesado não ]e problema para elas tanta a naturalidade e o habito. Não sei quanto tempo caminhei e em que cantos da cidade estive. Calor. Po. Muito po. Musica nepalesa na estrada fez-me lembrar a Beirute de 78. Bons velhos tempos:) Quando acordei no meio deste quadro reparei que, apesar do meu exímio e apurado sentido de orientação, estava algo perdido. Caminhei na direcção que achava mais correcta. Acertei. Mas ainda andei de Tuc Tuc e como as ruas são algo inclinadas, tive que ajudar o homenzinho (no Nepal existem pessoas bastante pequenas, devido a comida, penso) a arrastar a bicicleta.

Ontem foi um dia especial. Comecei a comer sem recurso a utensílios de cozinha. E super fácil e por incrível que pareça, a comida sabe melhor. Agora estou a aperfeiçoar a arte de beber sem tocar no copo ou garrafa! A comida nepalesa ]e bastante temperada. A Cintia sabe que não tenho qualquer problema com isso! E bastante boa. O prato nacional e Dal Bhat. Com algumas variantes, duas vezes por dia. Tentem descobrir o que ]e!Ontem demos um salto ate ao Swyambhunatli Stupa. Um local de oração bastante agradável e com uma vista deslumbrante. Ainda sinto um bocado de confusão ao ver um monte de crianças a pedir dinheiro. "Paisa paisa". Um directo "Paisa Chhaina" ]e suficiente para recuarem. Mas nem sempre ]e assim. Geralmente dou comida. Tenho comido um pouco de tudo do que vendem na rua.
E ainda não me apareceram diarreias. Vamos esperar e ver (se quiserem).Hoje foi a vez de vermos PashupatiNath e do Boudha Nath. O maior local de peregrinação hindu, onde se queimam os mortos e outro local de oração budista. PashupatiNath esta repleto de touros, o meio do transporte do Deus Xiva (Deus da erecção e das coisas boas da vida). Pelo dia de Xiva, único dia hindu em que ]e permitido usar e abusar de drogas. Milhares de Sadhu vindos da Índia depois de dois meses a pe, enchem as ruas da capital nepalesa. Depois são outros dois meses de retorno, a pe. Se Fátima e longe...

Por sorte chegamos ao fim da tarde ao ultimo local a tempo da oração. Aprendi um mantra e dei umas quantas voltas no sentido dos ponteiros do relógio, lado a lado com algumas centenas de pessoas vestidas a rigor. O som ambiente das orações budistas misturado com os diversos aromas e uma data de relâmpagos gigantes (dos maiores que vi) tornaram um bom momento num grande momento.

Mudei. Agora já gosto de transito nepales. Apesar de em quatro dias já ter ouvido mais buzinas do que em toda a minha vida. E super interessante ver como as pessoas conduzem. Quando parecem que vão chocar, alguém se desvia e tudo se resolve. Ate nos engarrafamentos se encontram veículos em sentido contrario. Outra coisa bastante interessante baseia/s no facto de mesmo de noite, existem condutores que não ligam as luzes. Ora, como a cidade esta percariamente iluminada, são um verdadeiro perigo porque surgem do nada. E por estas e por outras que atravessar a rua em países asiáticos e uma aventura e um perigo real. Aprendi a gostar porque as pessoas parecem bastante conformadas com o tipo de condução. Se eles estão bem, eu também posso estar.

No outro dia tive uma das grandes experiências desde que cheguei. Bicky, um tipo muito porreiro e com a mania de que e engatatao, levou-me numa volta por uma parte da cidade na sua, acho eu, moto. Se conduzir na cidade já ]e um problema porque o conceito de rua nestes lados ]e um bocado diferente, andar numa 125cc a 100 km/h na capital cheia de carros que se movem como que aleatoriamente pode ser um problema. Dei uns valentes berros mas curti bastante. Passar numa lomba a grande velocidade resulta num agradável salto. Só aqui, acho.

"I know kung-fu" disse Keanu. "I know nepali. At least some" digo eu. Não ]e nada difícil. Alias, com um bocado de pratica facilita muito a vida de um turista como eu. Ate para brincar com as crianças. Adoram quando digo qualquer coisa de modo estranho.

Tappaiko naam ke ho? --> What is your name?

Tapaai laai kasto chha? --> How are you?

Montes de frases interessantes. E claro que e necessario bastante pratica para utilizar muitas palavras. Mas ]e agradável desejar um bom dia com algo que deixa os nepaleses a rirem-se como perdidos na minha cara. Claro que também me esboco um sorriso para não ficar mal!!! Uma das palavras mais importantes e utilizada a todas as refeições: "Pugyo". Apesar de serem bastante pobres, os nepaleses gostam de agradar na cozinha. Para tal, nao se inibem de encher o meu prato com saborosas comidas. Uma, duas, tres ou mais vezes. E claro que nao me importo mas quando sinto arroz com lentilhas no esofago, ]e tempo de parar. Um simples basta e a coisa fica resolvida sem problemas. Para quem procura namorada nepalesa: Keti saati mero ho? Eu nao aconselho dizer isto na rua porque pode correr mal, muito mal. Para negociar precos (grande arte marroquina so superada pela nepalesa!) saber umas quantas palavras tambem ajuda uma vez que ja nao passo por um turista vulgar. Como sou da Trofa, aprendi desde novo que somos sempre roubados. Assim, nao me deixo levar com precos realemente elevados nesta realidade. E claro que se for uma cena mais barata ate dou o jeito. Mas geralmente consigo reducoes de 60%. Ah?? Alguem quer alguma cena?? hehehe.

O melhor sentimento, para alem de receber tanto por parte das criancas que nao sorriem (conseguem atingir?), ]e o que aparece quando ouco a musica que trouxe. Sempre soube que as coisas sao melhores com musica. Mas respirar este ar e ouvir o meu som, priceless.

Depois de uma cerveja em casa do Bicky, estranhamente equipada com um grande sistema de som, frigorifico e tv, fui para casa. Pensava eu. Como disse, isto nao tem la muita luz. E de noite as coisas nao sao iguais. Acabei perdido e de cada vez que abordava alguem para perguntar o caminho, era-me "oferecida" estadia e droga. De melhor! Mas rejeitava educadamente "a maneira da Trofa. Quando era abordado por bebados sentia saudades de Braga! Chico, Joao, Cunha, Dragon, Gualtar, voces estao bem?? Teem comido a sopa toda??

Bem, isto ja esta grande de mais. Nem sei como escrevo tanto e fica tanto por dizer. Nao consigo escrever o essencial. Aquilo que sinto por causa desta experiencia.

E isto e so o inicio!