Sunday, April 30, 2006

Kathmandu, 29 de Abril 2006 / 8h:05min


Bem, nem sei por onde começar. Talvez falando sobre este espaço primeiro.
Ainda não sei bem qual o objective e o que fazer com este blog. Se por um lado seria agradável transcrever passagens do meu diário, por outro isso nem sempre e possível e a selecção de texto pode ser difícil. O mais provável é escrever apenas quando me ligar ao mundo. Como agora.
Antes de falar sobre o primeiro dia, falo sobre o Segundo.
Deite-me por volta das 23h locais. Estava muito cansado e já só queria cama. Adormeci no minuto em que me deitei, na minha cubata. Acordei durante a noite e pensava que seriam umas 8 da matina. Errado. Eram duas da manha. DUAS! Estava sem sono e um cão não parava de ladrar. Só voltei a adormecer por volta das três. Acordei as quarto com o cão. Cinco com o cão. Seis com o cão e com os corvos. As sete levantei-me e só me apeteceu gritar “You are going to die”! Depois seguiu-se um banho de agua gelada. Grande estalo. Tendo em conta que não faz parte da minha rotina diária tomar banho com agua fria, tive que apelar ao espírito festivaleiro que existe dentro de cada um e enfiei-me debaixo do chuveiro. Tudo pronto e foi altura de tomar o meu primeiro pequeno almoço nepales. Dois ovos cozidos, chá e tostas. Pelo que percebi, os ovos são uma constante.
Bem, recordando:

Aterrei ontem com uma hora de atraso. Estou sem mala. Não chegou ao aeroporto. Ninguém sabia nada e ninguém dizia nada. Eu já estava a começar a ferver e pronto para mandar umas bocas tipo Chuck Noris ou mesmo Fernando Rocha. Depois, do nada, surgiu um numero de telefone e disseram que teria que ligar hoje as nove para ver se já tinham chegado. Eu e todos os outros que também ficaram sem bagagem. Como em cada canto do mundo existem portugueses, era apenas uma questao de tempo ate encontrar alguém. O que nunca pensei e que fosse Tao rápido. Ainda não tinha o visto e já estava na amena cavaqueira com um casal de namorados do Porto. Vieram dois dias a Kathmandu. Combinei jantar com eles hoje.
Como já estava a espera, ninguém da INFONepal estava no aeroporto para me dar boleia até ao hotel. Sem stress. Pensava eu. Mal sai porta fora do aeroporto parecia o rei de Espanha e fui abordado por uns 10 pseudo taxistas. “Taxi sir? Taxi and Hotel sir? Good taxi! Cheap”. Eu perdi a cabeça e comecei-me a rir e a praguejar na minha bela lingua. Depois escolhi um. Perguntei o preço para me levar ate ao Kathmandu Peace Guest House. 300 Ruppeas. Parecia-me justo. “Come sir, come”. E la fui eu atrás dele. Como tuga que sou, fui sempre naquela de “Isto nao cheira muito bem”. Ele estava-me a levar para longe do aeroporto. Olhei para trás e estavam 3 tipos atrás de mim. Apenas a uns metros. Eu sem dar bandeira mudei de direcção e, para meu espanto, fui seguido por eles. De novo no aeroporto o pseudo-guia-turístico-hoteleiro-taxista veio ter comigo e eu disse “Pic me up here alone or i’ll catch another taxi, bee-atch”. “Ok sir, sorry sir”. Isto sim, foi uma boa chegada.
Para quem não sabe ou não imagina, o Nepal e uma pais do terceiro mundo. Lixo, barulho, sujidade, pó, calor, case e mais cães, corvos, pegas, pessoas pelo chão a pedir e um milhão de crianças a tentar vender qualquer coisa. Era imperativo aprender nepales. A minha paciencia estava a ser testada.
O transito, como tinha lido, e algo indecifrável. Não existem propriamente regras. Nem sinais fora da variante. Dentro da cidade e cada um por si. O sinal de aviso, buzina, e utilizado de três em três segundos. Já no taxi, sem cinto, fiquei branco com a condução do tipo. A olhar para mim e a tentar “oferecer” estadia “Need bed? Cristiano Ronaldo real good. Need place to stay” foi conduzindo como um lunático. Esquerda, direita, meio, povo no meio da rua, carro a ultrapassar mota que ultrapassa carro que esta a ultrapassar autocarro que esta a ultrapassar bicicleta com um monte de galinhas e uma realidade que tinha lido e que se verificou. Tinha que haver um acidente. Chapa pelo menos. Nada. De algum modo as pessoas conseguem desviar-se do perigo eminente. Foram os 10 minutos mais asssustadores na estrada. Se tenho medo de andar na rua, este e um bom local para perder esse medo.
Ja no hotel, contactaram o pessoal da Info e pouco tempo depois apareceu Bicky. Um tipo que se mostrou ser muito porreiro, mesmo comigo a desconfiar de tudo o que era ditto e me ajudou em tudo.
O escritorio da INFONepal e perto do hotel e e super facil de chegar ate ele. E apenas uma sala cheia de fotos e recordacoes de outros voluntarios (mais de 500). Conheci o Asim, director da INFO, e montes de gente. Britanicos, holandeses, uma canadiana e mais tarde viria a conhecer muitos mais. Fiquei boqueaberto ao perceber que a realidade portuguesa e bastante distante dos outros paises. Pensava que seria um voluntario relativamente jovem. Big mistake. Existem rapazes e raparigas com dezanove e vinte anos. Que ja estao fora de casa ha meses e ja conheceram uma data de paises do sudoeste asiatico. Um britanico de 18 anos, residente na Holanda, ja esta ha uns 18 meses for a de casa. Que realidade. Muito fora mesmo. Isto para nao falar sobre os ocidentais que deambulam pela rua. Muitos a pe descalco. Outros parecem ter ca ficado depois da decada Hippie. O mais impressionante e o relaxamento com que tanto os nepaleses como os ocidentais tratam tudo aqui. Tudo numa boa. Paz e sossego. E claro que nao tardou a ser abordado por uma data de povo a vender. “Marijuana, hash, opium sir? Very quality” diziam entre dentes ao meu lado como quem espera por um autocarro.
Nao me quero alongar nas descricoes sobre o que sinto e o que se passa. E algo dificil de explicar. Motas, carros, animais e pessoas. Tudo se cruza numa harmonia estranha aos meus olhos. Com a maior das naturalidades.
Jantei na Happy Home. O orfanato da INFO e casa de Asim e Namrata, sua querida mulher. Arroz amarelo, vegetais e frango. Tudo com sabores que nunca se tinham misturado na minha boca. O receio de ma comida foi apagado.
Jantaram uma data de voluntarios. Era a despedida de 3 voluntarios que iriam passer um mes a India e depois regressarao a casa. Fiquei espantado ao ver a facilidade com que comiam com a mao direita. Tentei mas o resultado foi ficar todo borrado e voltar a usar a colher.
Nao quero falar sobre as criancas orfas. Nao agora.
Boa gente, esta.

P.s: O Bicky chegou agora. Disse para verem este link: http://www.vcdnepal.org.np

Saturday, April 29, 2006

Bahrain, Sábado, 5:17, Hora tuga

Bahrain, Sábado, 5:17, Hora tuga.

As lembrancas sobre o Forca Delta sao bem mais reais agora que espero a partida do avião que me levara a Kathmandu. E um 767, economy only, e com musiquinha árabe a condizer com o filme. Os bancos gastos e amarelados, as cortinas entre as diversas partes e igualmente um mixórdia de nacionalidades fazem com que este avião seja um autocarro de carreira. Franceses, alemães, italianos, ingleses, nepaleses e uns tantos que não da para identificar. E claro, um português de cabeça rapada. Se o avião for desviado para o Líbano, espero que liguem ao Chuck Norris. Já estamos a andar.

Editor note: o teclada n tem acentos...
Heathrow, 21:32, Sexta feira 28/4

E um misto de sentimentos que me abordam neste momento. Sentado no avião para o Bahrain penso no que ficou temporariamente para trás. Apesar de conseguir distinguir a tristeza de abandonar os meus e aquilo quem me e familiar, a ideia de que cada passo agora e dado no desconhecido deixa-me ansioso, apreensivo e, não menos importante, feliz. Feliz por estar a cumprir mais um desejo, mais um sonho e apreensivo para perceber a minha resposta a privação das coisas que da-mos como certas. E mais um teste. Diferente e iniciado pela mais dura das realidades, a separação. Sem querer cair em lamechices, não e possível verbalizar a dor da ausência, a angustia das destoes de quem gosta e teme pelo bem estar.
O dia passou a correr, entre o corropio normal de um aeroporto, uma hora de sono num banco em Stansted, uma infindavel fila de transito a caminho de Hethrow, um bocado de pizza fria (incluindo o belo farnel tipicamente portugues em que so faltou o leitao) e a surpresa natural de quem viaja pela primeira vez, a torre de Babel que caracteriza um aeroporto internacional.
Faltam dez minutos para partir numa paragem (e agora o avião ficou sem luz) em que so desejo chegar a tempo ao próximo voo.
São muitos as linguas indistinguíveis que se fazem ouvir no avião. Entre as quais a de um grupo de crianças da escola britânica do Kuweit. Uns porreiros. Ate deu pra jogar uma futebolada com eles na sala de embarque.
Já só me lembro do memorável Forca Delta com o Chuck Noris. Pelo sim pelo não, vou ver as caras a minha volta. Vi num documentário semanal uns tipos que foram parar a uma ilha deserta e depois havia povo que não estava no avião…
Enquanto escrevo neste saco de papel destinado ao vomito de um qualquer passageiro, o sinal para apertar o cinto acende-se. Vou neste…

Friday, April 28, 2006

Póvoa de Varzim: São 1:44 da noite. Tenho que acordar às 6horas da matina para ir para o aeroporto. Como um português que se preze, ficaram algumas coisas para fazer "à pressa" antes de partir. Esta é uma delas. Não sei qual o potencial deste espaço, até porque é o meu primeiro blog. Sim.. agora eu sou dono de um dos 20000000 (número puramente fictício) blogs nesta coisa que chamam "a Internet".
O meu próximo destino será a Cama. A Cama, de pinho antigo e contornado pelo passar dos anos, envolve-se numa zona própria para o descanso e relaxamento pessoal (ou colectivo). A Cama está presente em muitas das habitações ocidentais. Tipicamente confortáveis, apresentam aromas algo desagradáveis quando pequenos constituintes seus, denominados "Lençóis", juntamente com o Rei da Cobertura, O Edredão, não são lavados regularmente.
Mas não falemos d' A Cama por ora. Certamente discussões acesas serão travadas neste blog com vista a definir propriamente o papel das Fronhas. As Fronhas são elementos importantes no que toca a um bom relacionamento entre A Cama e os já referidos "Lençóis". Mas como este é outro rosário, não me vou alargar.
Um outro destino interessante é também o Nepal. Muito poderia dizer eu aqui, neste modesto canto de futuro escárnio e mal dizer, sobre o Nepal. Mas afinal o que é o Nepal? Pergunta você, caro leitor de textos fornecidos a granel e, obviamente, gratuitos.
Poderá descobrir muitas coisas sobre esse belo país enfileirado entre o Tibete chinês e a Índia pela "Internet a fora".
Fica o conselho: conhecer o Nepal nos próximos tempos através da minha experiência é um bom modo de você, estimado leitor-já-viciado-neste-blog, ficar a saber algo mais.
É 1:45 da noite. O dia começa cedo e excitante. Bem como esta jornada. Este é o primeiro e último post antes de partir, neste Portugal que eu tanto amo ( menos a parte para baixo do Douro).
Até já