Thursday, June 22, 2006

Um cheirinho

Já tenho bilhete!

Já está. Finalmente consegui a reemissão do bilhete!
Cheguei cedo. Cheguei decidido. Não sairia daquele escritório sem ter o papel que me fizesse regressar para o meu cantinho. Apesar de abrirem às 9h 30min, pouco depois das sete e meia já estava eu com um livro, música e preparado para dormir (o que fiz durante a maior parte da espera). Fui o primeiro a chegar. Teria que ser o primeiro a ser atendido. Desta vez não havia ninguém na sala de espera. Oito e meia e ninguém. Nove e nada. Farto de estar parado decidi esticar as pernas. Assustei-me ao ver umas trinta pessoas numa perfeita fila à entrada da porta
principal do escritório. FUCK!!! Da primeira vez a espera fez-se na sala de.. espera! Até encontrar os seguranças foi um stress. Não estava a tentar passar à frente. Simplesmente fui o primeiro a chegar.
Minutos depois já tinha o bilhete com o número um e estava prestes a utilizar todos os meios necessários para reaver o meu bilhete de regresso. Eu, com este corpo bem delineado, robusto e autoritário (cof cof), estava pronto para qualquer uso da força. Claro que quando uma simpática nepalesa de voz agradável me atendeu a atitude mudou e pouco mais tenho para contar do que um bilhete de avião e um cigarro depois de.. reemitido !! Brincadeira.
Finalmente tenho o bilhete e agora vou aproveitar o tempo que me resta.
Kathmandu está na mesma. Pó, tráfego, cães, vacas e corvos. Pokhara é linda quando comparada com KTM mas esta cidade preserva uma identidade menos ocidentalizada. Bhaktapur, o próximo destino, é considerada a mais medieval das cidades no vale. Vamos lá ver.
Espero que a nossa selecção continue com vitórias. Vibrar no meio de nepaleses que adoram futebol é qualquer coisa - apesar de eles se rirem de cada vez que grito um P*ta bem alto! Força rapazes.
"Scolari, se ganhares, estás perdoado..."

Fotos (Parte 54)



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Fotos (Parte 53)


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Até um dia

Despedi-me da aldeia e da minha família nepalesa. Não consegui evitar a lágrima no canto do olho. Apesar do voluntariado na aldeia não ter corrido da melhor maneira, nada fazia prever a tristeza de abandonar os sorrisos que me acordavam de manhã e que partilhavam os meus bons e maus momentos. A escola fechou para férias, isto é, para os putos irem trabalhar para os campos e os meus planos alteraram-se uma vez mais.
Como já muita gente sabe, tive bastantes dificuldades em lidar com o isolamento. Senti pressão e sufoco. Senti muita vontade de partir quando as coisas não corriam da melhor maneira. Não fui um bom professor, não ensinei carradas de coisas como pensara. Não entendia como alunos com 12 anos não sabem ler e se encontram em classes avançadas. Agora sei que os professores ganham bónus consoante os níveis de aprovação. Bingo. Apesar das dificuldades em comunicar, o meu nepalês está situado abaixo do medíocre, cumpri um dos objectivos a que me tinha proposto (isto tipo auto avaliação a la ensino português). Fiz sorrir muita criança muitas vezes. E isso é, para mim, o ponto alto da interacção com miúdos que não conhecem mais do que as aldeias das redondezas e uma ou duas mudas de roupa. A simplicidade do quotidiano e a alegria natural que nesta realidade, quando vista por um forasteiro, pode parecer difícil de alcançar, fizeram que o meu coração se atrapalhasse no absurdo que nos, ocidentais, temos quando algo "importante" nos falta ou que que queremos ter.. e não podemos por uma data de razões igualmente estranhas como o desejo de possuir.
Talvez razão de ter tido dificuldades em lidar com o afastamento do ambiente citadino resida também no facto de esta ser a primeira grande viajem que faço e como tal o desejo de viver e de sentir vibrações diferentes me fizesse voar lá de cima (da aldeia) para outras paragens. Apesar de não ter sentido isto em Kaskikot, agora penso que este pormenor talvez condicionasse a minha estadia.
Quando disse que teria que partir definitivamente, percebi que a vida das pessoas muda quando existe interacção com culturas diferentes. Se o meu "pai" ficou triste por eu ter que abandonar a aldeia, as suas lamentações relativas ás conversas que ficaram por existir e aos lugares que me queria ainda mostrar fizeram-me perceber que era algo mais do que um simples ocidental acidentalmente surgido do nada que por ali andava, a minha "mãe" apressadamente cozinhou uma última vez para mim e desfez-se em lamentações por ter que tratar do meu bilhete de avião a KTM. Antes de partir saudaram-me com uma tradicional manifestação religiosa de adoração e todos os elementos da família e mais alguns participaram na realização da minha Tika.Parti triste num autocarro convencionalmente atulhado de gente e galinhas. Parti desanimado. Complexo por me sentir mal ao abandonar um lugar que ao mesmo tempo me fez feliz e complicado.
Triste estou ao escrever estas palavras. Talvez pela ansiedade de aproximar o meu regresso e por não estar ocupado com nada (para além de ver futebol e conversar com tudo o tipo de personagem). A cidade é linda. O lago tem uma agradável temperatura. O céu é azul de manha e pinta-se de nuvens pela tarde. A chuva é intensa mas apenas torna o fim de tarde frente ao lago num momento especial. Amanhã cedo parto para a cidade dos cães, corvos e vacas sagradas que comem lixo.

Monday, June 19, 2006

Fotos (Parte 52)




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Fotos (Parte 51)




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Fotos (Parte 50)




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Fotos (Parte 49)




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Sunday, June 18, 2006

Fotos (Parte 48)



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Fotos (Parte 47)




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Thursday, June 15, 2006

Eu fui ao ABC e não morri (por pouco)

Terminou ontem a minha ida ao Annapurna Base Camp. Apesar de não ter muitas palavras para descrever o que aconteceu nestes últimos nove dias vou tentar fazer um resumo não muito alargado.
A objectivo era ir até ao ABC e voltar com vida. Isto basicamente.
Foram nove dias em que o lema "Quanto pior, melhor" se aplicava na perfeição. Chuva. Sol. Frio. Lama. Sede. Calor. Sono e exaustão. Floresta. Monte acima e monte abaixo durante 9 dias. Nunca tinha feito trekking na vida. Sou solteiro, bom rapaz e não tenho carta de condução. Adepto dos transportes públicos por isso passei toda a vida a caminhar. A ideia de caminhar monte acima não me era muito agradável já que o cansaço, pensava eu, não me deixa respirar as fotografias que aparecem a cada virar de trilho. Errado. Cada dia foi especial à sua maneira. Não só pela diferença de ambiente entre três horas de caminho mas também pelas mudanças rápidas de tempo e alterações repentinas dos trilhos.
Se pensarmos nas tradicionais bouças portuguesas apinhadas de.. pinheiros e eucaliptos, os típicos carreiros que as atravessam são auto estradas vazias quando comparados com os caminhos que percorri. Se em momentos havia realmente um percurso calmo e natural, rapidamente apareciam trilhos de rochas empilhadas de modo aleatório e afogadas em ribeiros temporários nesta época de chuvas. Lama, sanguessugas, calor e chuva foram determinantes na realização do "The worse it gets, the better it is".
Não fui à TROPA, nem sou escuteiro, mas por variados motivos sinto-me bem no meio do mato só com o meu canivete. Sério. Não é que consiga sobreviver só com sementes e raízes mas respirar o ar húmido e abafado no meio do nada com água pelos tornozelos é algo que me deixa relaxado. Mesmo quando a água tem alguma corrente e dois metros depois o ribeiro esbarra com um abismo que não me atrevi a espreitar.
Se quando era puto era adepto do "falta muito para chegar??" agora as coisas são diferentes. Porque nem sempre depois da próxima colina existe um ponto de paragem com abrigo da chuva. Nem sempre depois da próxima colina existe alguém que cozinha. Quando se está a cinco dias de caminho do computador mais próximo, amigos geeks, a vida muda! :) Para melhor..
O segredo era não ir carregado. Um saco com o básico seria o ideal. O ideal para mim era pesado. Resultado: não é que tenha nojo de usar os mesmos boxers durante dias a fio ou usar a mesma t-shirt molhada todas as manhas. Meias secas? Não obrigado. As botas só ficarão secas daqui a uns dias. O problema mesmo era o cheiro. Roupa molhada em sacos de plástico não é coisa boa.
Todas as dificuldades, incluindo a fadiga, eram ultrapassadas com o céu aberto e com imagens que gravei na minha memória bem como a sensação do dever cumprido de chegar ao destino planeado mesmo que isso significasse ficar baralhado com cruzamentos e rotundas naturais no percurso.
A manhã no ABC é uma bela página na minha vida. Não pelas cervejas da noite anterior a 4130 metros de altura mas pelo céu limpo e pelos esmagadores e sossegados montes que se esticam por mais quatro quilómetros de altura. Lindo. Não vou gastar mais palavras para tentar descrever algo que ainda me custa a digerir.
Não tive dificuldades em respirar mas nota-se alguma diferença o que me leva a pensar que o João Garcia e outros tantos devem ter qualquer truque para respirar lá no alto. Demais. Lembro-me que tive dores de cabeça quando regressava. Era sempre a descer por isso acho que sofri de low altitude sickness. Vou investigar e ver se realmente existe. É claro que podia ser fadiga ou apenas sol na moleira..
Mesmo a regressar lentamente quando os joelhos já se queixavam foi qualquer coisa.
É claro que são, segundo uns guias, 180 quilómetros de adrenalina.
Um must para todos aqueles que conheço.
Agora vou aproveitar uns dias para relaxar e ver futebol. Só tenho pena que não hajam tremoços nesta parte do globo. Tenho que me contentar com cerveja gelada de 65cl, toneladas de amendoins e gente de todo o mundo a torcer por equipas que não conhecem.
"Isto resumidamente, claro".

Para os interessados: a minha cruzada para recuperar o meu bilhete ainda não terminou. Algo me diz que terei que regressar a KTM e abordar o escritório da Gulf Air de maneira diferente. Como se diz no bairro.. "Atiçar os cães".

"Not to big. Not to small" - Resposta de um simpático nepalês quando perguntei de que tamanho era a pizza. Thanks dude.

Monday, June 05, 2006

Fotos (Parte 46)




Annapurna Base Camp, here I go!
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Saturday, June 03, 2006

Fotos (Parte 45)


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Fotos (Parte 44)




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Fotos (Parte 43)




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