Wednesday, May 31, 2006

Kaskiko, 28 de Maio 2006

19:00 - Tenho bastante sorte nesta aldeia. Pelo menos no que toca a vida selvagem. Escrevo ao som de um cucu que não se pendura na parede. Aranhas vagueiam pelo quarto, mosquitos tentam penetrar no meu forte,
vulgo rede de mosquitos, o búfalo cá da casa compete com os bodes para ver quem me consegue irritar primeiro e, mais logo, ratos do tamanho de pequenos leitões vão passear alegremente pela casa. Há quem jure a pés juntos que já se cruzou com tigres nesta zona. Não devo ter tanta sorte. Ou azar.
Os dias têm passado a correr. Não literalmente, já que a escola é perto. Mas mesmo quando o tempo parece não passar... passa. No outro dia de manhã, 6horas e 30min, subi a colina para ver as famosas vistas que os postais trazem. Após uns vinte minutos monte acima e depois da compensação de ter escalado o que me pareceu grande montanha, estava sentado pasmado com as vistas que se encontram nos postais. Com um
bocado mais de nuvens mas o resultado é lindo. Grande quadro. Não havia livro nem música, mas foi quase perfeito.
Não tenho a certeza quanto ao progresso dos "meus" putos mas tenho a certeza que nos temos divertido à fartazana. Alguns demonstram que percebem alguma coisa ou pelo menos sabem associar as respostas. Outros, uns quantos dias depois, ainda cantam um inocente "What is your name?" cada vez que me vêem. Aboli com o "Sir". Agora todas as manhãs ouço uma montanha de "John John, u ok?". As tentativas para dizerem João são hilariantes e nunca pensei ter tanta dificuldade em explicar o que é um leitor de MP3. A parte da rádio até percebem..
No tempo de recreio ou na biblioteca dou por mim a fazer figuras que, quando tinha a idade destes, eram normais. Tento corrigir as minhas atitudes mas ainda acontece cagar para os putos e ficar a tentar fazer
qualquer coisa com os pedaços maiores de plasticina. A jogar futebol é a mesma coisa.. se estou a perder.
A filosofia de praxe tem resultado. Dentro da sala de aula o respeitinho impera. Se alguém não faz o trabalho de casa já sabe o que tem a fazer. Encher! E fazem-no alegremente.
A questão essencial é a educação. Não só a educação escolar mas também aquela que os ocidentais recebem em casa. Podem ser coisas simples, como higiene ou comportamento. Podem ser coisas complicadas como
entreajuda e respeito. A estas crianças falta um pouco de tudo. Todas as crianças roubam. Eu roubava (agora é só pelo prazer da coisa). Estes putos roubam mesmo quando algum adulto está presente. Já discuti um sem número de vezes com os "verdadeiros professores" mas parece-me que não está no curriculum ensinar a estas crianças que não se deve limpar o nariz com a mão e depois na almofada ou que os materiais são para ser utilizados na escola. Sem dúvida que os berlindes e os lápis de cor são os mais cobiçados. Seguidos de perto pelo giz e plasticina.
Decidi que todo o material que trouxe, excepto os porta lápis e a sua "guarnição", vão ficar na biblioteca. Se distribuir os lápis de cor, as canetas, os livros de pintar, as cordas pra saltar e os berlindes mais tarde ou mais cedo vai tudo parar ao meio do monte ou queimado na altura de fazer o tacho.
Ontem tive a visita da Júlia. Uma voluntária que já viu meio mundo e que esteve 3 meses numa aldeia a 13 horas de autocarro da capital. No meio do nada. Mais uns voluntários vão aparecer daqui a uns dias. Parece-me que nunca viram um tuga.
Está a chover pra caramba agora. E cheira bem demais. A minha amaa cozinha que é uma maravilha. Vou jantar, ler e dormir. Vou tentar não me esquecer de ligar o alarme! Hoje adormeci e cheguei tarde à escola (novidade!!). "Tarde". Já que fui dos primeiros e depois não houve aulas (para os professores), porque em Pokhara havia um comício qualquer. Hilariante, já que desde que comecei nesta aldeia não houve 2 dias seguidos de aulas. A aldeia ficou vazia mas não foi por isso que os putos deixaram de ir à escola!!!!
Bou jantar.

Fotos (Parte 36)


 Posted by Picasa

Fotos (Parte 35)



 Posted by Picasa

Sunday, May 28, 2006

Fotos (Parte 34)




 Posted by Picasa

Fotos (Parte 33)



 Posted by Picasa

Friday, May 26, 2006

Fotos (Parte 32)



 Posted by Picasa

Fotos (Parte 31)




 Posted by Picasa

Fotos (Parte 30)




 Posted by Picasa

Thursday, May 25, 2006

Kaskikot, 24 de Maio de 2006

"8.45- Ontem foi grande stres para adormecer. Não era o medo dos ratos que me mantinha acordado mas sim o barulho infernal que estes faziam. Raios. Parecia que estavam numa batalha campal. Guinchos e mais guinchos. Corridas na chapa do telhado. Não faço ideia de quantos eram mas eram bastantes.
Acordei às cinco com o professor a canta e com as crianças aos berros. Paciência. Se fosse em minha casa ja tinha mandado alguem para o cu de Judas. Ou perto. Como sou convidado, paciência. Voltei a adormecer. Acordei. Adormeci. Acordei. Foi assim até ouvir gritos por parte de toda a família. "Não me digam que o monte vai ceder". Vesti-me a corre e já cá fora vi o que parecia uma dança tradicional tipo YMCA. Afinal, duas lingas águias ameaçavam as galinhas. Juntei-me a eles para defender o território. Só aqui.
O meu primeiro dia de aulas não foi propriamente normal. Era dia de "Cultural Programming" e várias escolas competiam entre si para melhor música, melhor dança e melhor discurso. Apesar de demorarem tempo a agir, os nepaleses estão sempre prontos para discursar. Torna-se hilariante vê-los a gesticular sem perceber nada. Quando concordam ou gostam batem na mesa.
Conheci Marion, francesa, 8 meses mais nova do que eu. Seguidora de Jah e voluntária em vários países africanos e asiáticos. Nem sei como descrever a personalidade dela. É uma cidadã do mundo e tem bom coração. Está encarregue de tomar conta de cinco filhas de uma família muito pobre, para além do trabalho na escola. Ela é que se disponibilizou para tomar conta das pequenas. A mais pequena, com 18 meses, parece que tem apenas 6. Quando nasceu, e por não ter sido rapaz, a mãe tentou matá-la. É azar nascer mulher aqui. E é mau não ter filhos. Quando as filhas se casarem com os noivos "arranjados" partem para outras bandas e os pais ficam sozinhos.
Enquanto dava de comer à pequena (biscoitos com arroz e sumo) conta-me sobre a sua filosofia. Não come carne, peixe, ovos nem bebe leite. Fala apaixonadamente da vida e da entre ajuda. Voltou porque está apaixonada por este local isolado do mundo. E com razão. Penso agora que aquela mulher com rastas, mete no bolso a maior parte de pessoas-com-rastas-que-eu-conheço ou que vejo nas esplanadas em Braga. Estilo é uma palavra.
Vou almoçar.

17.10 - Hoje foi um longo dia de escola. Já tinha visto a escola por fora e parecia-me muito fixe. Como me disseram que as aulas começam às 10 horas cheguei um bocado antes. Outro choque cultural. Não podia acreditar que as crianças tivessem aulas nas quatro salas com aquele aspecto. Apesar de, devido a muitos motivos, as crianças estarem sujas, não existe justificação para as salas estarem imundas. Existir até existe.
Como ainda só tinham chegado algumas crianças, decidi pôr em prática os ameus dotes de dona de casa e tornar a escola mais limpa. Vinte minutos depois estava a pingar do nariz devido ao pó, e a suar. A primeira sala já estava.
Enquanto limpava a segunda sala decidi criar um pequeno exército de "limpadores" e, utilizando as belas técnicas de praxe, criei um bloco de crianças instruídas para apanhar tudo o que fosse lixo. Resultou!!
Quando estava na terceira sala, e já com uns sacos cheios de lixo (que provavelmente foram parar ao monte) o director da escola apareceu com uma professora. "As aulas começam às 10 horas!!", pensei. Lembrei-me do que Vicky Sherpa escrevera em "Uma professora em Kathmandu". O director da escola dela era um cabrão dos grandes. Malaka. Este, "o meu director", ajudou-me a arrumar os bancos e pegou numa típica vassoura.
A escola não ficou um brinco mas está bem melhor.
O desenvolvimento não depende só dos materiais. Essencialmente depende das pessoas, da energia e da educação. Ao ver a biblioteca fiquei parvo. Montes de livros muito fixes. Histórias, contos, ciências..
A maior parte deles difíceis de mais para o nível de inglês destes putos.
Já nas aulas apercebi-me de que não existe um plano curricular concreto e que a base da aprendizagem é, talvez como em Portugal, decorar. Tão facilmente respondiam correctamente à pergunta "How old are you?" como disparavam um "I'm fine tanque you". Obviamente decorado.
Não percebi o método, se é que exite, utilizado por aqueles professores. Alunos de 12 e 7 na mesma turma. Aulas de dez ou vinte minutos. Enfim, o tempo de decorarem qualquer coisa.
Acho que, com todo o respeito, para ser professor no Nepal, basta ser nepalês. Para ser um bom professor, a história reza de maneira diferente, só pode.
Marion contou-me que apesar dos recursos não são realizadas actividades. Apercebi-me disso quando espreitei para o armário dos professores no escritório. Um monte de lápis de cera novinhos em folha. Juntando a isso os livros de pintar que existem na biblioteca e que nunca foram abertos, apeteceu-me pregar uns murros aos chamados adultos. Perguntei porquê. Nada.
Ainda tinha um trunfo para jogar. A plasticina. Nunca antes professores e alunos tinham visto tal material. Desde elefantes, cobras e aviões, até pessoas e barcos. Tentei fazer de tudo. Só queria que o "Chicobom" cá estivesse para fazer 200 objectos em 10 minutos.
Sou um dorminhoco porque acordei às sete da manhã. yuppi!"

Sarangkot, 22 de Maio de 2006

"Foi uma sorte ter mantido o bom espírito com que me deitei ontem. Apesar de ter acordado com bastantes dores por causa da sinosite, sabia que este dia iria ser importante. Iria mudar-me para a aldeia e não podia estar com a moral em baixo como aconteceu em Sanga.
Após ter tido alguns problemas com as ATMs locais e ter visitado um ponto de referência em Pokhara (o que me custou os olhos da cara e até nem é uma gruta tão altamente como li), comi uma última refeição ocidental antes de viciar a minha dieta com a comida nepalesa. Pizza!
Como a pessoa responsável por mim não se pode deslocar à cidade, meteram-me literalmente num autocarro atulhado não só de gente como também sacos de batatas, cabras e bodes entre outras tantas coisas na parte de cima. Como já tinha reparado, existe sempre lugar para mais um, dois ou dez.
Após terem comunicado ao motorista que teria que me avisar no local de saída, fui abandonado pela única pessoa que falava algum inglês. Meia hora depois estavamos num caminho a que nós, ocidentais, chamamos "caminho de cabras". "Na Europa só de jeep aqui", pensei. Inacreditável.
Um autocarro, atulhado de gente, a cinco à hora monte a cima numa escada cavada pelo tempo, é obra. Ao som de música nepalesa quase a rebentar com as colunas, é de filme.
Uma hora depois fui abandonado no meio do nada. "Sarangkot", disseram. Saí. Vi apenas algumas casas típicas. Não queria pensar que estava sozinho no meio do nada, com meio litro de água, 26 quilos de bagagem e a pingar suor. "No que eu me vim meter".
Era suposto álguem estar à minha espera. como já estou habituado, comecei a caminhar rua a cima (aka monte a cima) até encontrar algumas pessoas. Perguntei pela escola. Perguntaram-me qual delas e disseram que a mais próxima é a três km. Eu, carregado, sorri. Após ter chegado à escola e já com dezenas de crianças em meu redor, perguntei se era ali que esperavam um voluntário. "No". "Tou f*d*d*". Uma professora de vinte anos levou-me até casa dos pais e ofereceram-me chá. Bebi um chá de leite com bastante gordura. IAC. Mais tarde o irmão dela iria-me conduzir ao telefone mais próximo, 50 minutos, para poder contactar a INFO e resolver o meu problema "no meio do nada mas com grandes vistas".
Vinte minutos depois encontramos um senhor que gentilmente, a troco de €, me deixou utilizar o seu telemóvel. Como não havia rede tivemos que caminhar mais outro tanto.
Depois de resolvida a situação, já com o nome da pessoa que me iria acolherm voltei à casa onde tinha os sacos e fizemo-nos ao caminho.
Simpaticamente, o irmao da professora, Bakhar, ajudou-me com o saco mais pesado. E ainda bem. Entre pedras e buracos, ia saltando com uma facilidade que me deixava envergonhado. Eu, com o saco pequeno, estava daí a pouco cansado e perdido pelo esforço. Ele, com uns vinte quilos às costas, sorria e gabava-se do trabalho duro que fazia. Explicou-me que por vezes carregava monte a cima com 40 quilos de arroz. "If we want to survive we need to work", disse-me num inglês claro. Boa gente.
Uma hora e vinte descanços depois (por minha culpa) estava entregue.
Obrigado Bakhar."

Tuesday, May 23, 2006

Fotos (Parte 29)


 Posted by Picasa

Fotos (Parte 28)



 Posted by Picasa

Fotos (Parte 27)




 Posted by Picasa

Sunday, May 21, 2006

New day..


Depois de 8 horas de viagem, duas horas de seca num acidente no meio do nada e com mais de 150 camioes em fila esperando que alguem se lembrasse de tirar o jeep acidentado do meio da ponte (ate que um tuga comecou a mandar bitaites), cheguei a Pokhara. Estavam a' minha espera desta vez.
A cidade e' linda! Apesar de ser a segunda maior cidade do Nepal, nao e' nada parecida com a capital. Aqui nao ha po nem caes em todos os cantos. Apenas passaros e um ar bastante respiravel. O ceu esta algo coberto por isso as imagens que vi nos postais ainda nao se mostraram. Talvez amanha ou quando regressar da aldeia. Nao vou passar tanto tempo quanto o esperado. Muito por culpa da perda do meu bilhete e da ineficacia das autoriadades competentes:)
Depois de ter almocado, aluguei um barco por uma hora. Perdi-me no meio do lago e aterrei para ler durante uns 30 minutos. Nao vou descrever o que senti porque foi bom de mais. Finalmente encontrei uma paz interior que me faz sorrir. Como sorrir ]e a melhor coisa do mundo, estou contente. Ja estava farto de Kathmandu. Apesar de ter a sua magia e de ter estado com as criancas, queria saltar de la'.
Amanha parto para a aldeia.
Ate' um qualquer dia.
Divirtam-se!

Saturday, May 20, 2006

Dig For Fire - Pixies

"there is this old woman
she lives down the road
you can often find her
kneeling inside of her hole
and i often ask her
"are you looking for the mother lode?"
huh?
no.
no my child, this is not my desire
and then she said

i'm digging for fire

there is this old man
who spent so much of his life sleeping
that he is able to keep awake for the rest of his years
he resides
on a beach
in a town
where i am going to live
and i often ask him
"are you looking for the mother lode?"
huh?
no.
no my child, this is not my desire
and then he said

i'm digging for fire"

Friday, May 19, 2006

Paciência

Já me tinha apercebido que os funcionários nepaleses levam o seu tempo a fazer as coisas que os ocidentais podem considerar rápidas. Quando fui buscar o saco ao aeroporto, depois de assinar folhas em nepalês, tive que esperar que os funcionários acabassem de falar sobre o cultivo de tulipas na época das monções. Consigo viver com isso. Quando quero comprar alguma coisa numa loja fora da zona turística sei também que tenho que esperar se algum nepalês chega depois de mim e é logo atendido deixando-me "on hold". Consigo viver com isso. Quando vou comer qualquer coisa e me trazem a bebida e só depois de terminada (o que até pode levar uma eternidade) é que servem a comida. Consigo viver com isso. Lembrei-me das horas de espera no dentista. Horas à espera de autocarros ou para comprar um qualquer bilhete para um jogo de futebol importante. Lembrei-me das esperas na loja do cidadão para tirar o cartão de saúde. Lembrei-me da espera antes dos exames. Lembrei-me das filas de trânsito quando Famalicão - Trofa demorava 3 horas. Não consigo ainda explicar o quão terrificado fiquei quando fui pela primeira vez ao escritório da Gulf Air Nepal para tratar da perda do meu bilhete. Como a Gulf Portugal me tinha dito que é apenas um procedimento simples e rápido não fiquei muito preocupado. Agora a coisa está diferente.
Depois de ter recebido ás 14horas o bilhete de atendimento 77 fiquei surpreso. Na segurança social numa qualquer loja do cidadão é necessário tirar senha de manhã se queremos ser atendido no mesmo dia (isto durante alguns meses). Quando reparei que ainda ia o 22 pensei que teria que esperar um pouco. Sem problemas. Música. Livro. Tava-se bem. Ouvi música. Li. Adormeci. Voltei a ler. Voltei a ouvir música. Voltei a adormecer. Quando acordei, isto umas três horas depois de ter entrado, ouço: "Thirty four". FUCK!!! Não podia acreditar. Se com os seis postos de trabalho ocupados demoram este tempo, com apenas 3 pessoas a trabalhar vou passar o resto da vida aqui, pensei. Sei que alguns processos são demorados. Eu queria apenas tratar de reemissão do bilhete ou alteração da partida mas ao ver que de cinco em cinco minutos um ou outro empregado se refugiava atrás do sinal "Staff Only" percebi que a situação já tinha passado para além de um simples stress test. Entrei em pânico. Senti-me como nunca me tinha sentido. Já só pensava em alterar o regresso para o mais breve possível. Não aguentava mais ter dois nepaleses colados a mim. Não aguentava as
questões vulgares ("you marry?" ou "how much you win?")! Tive que sair o quanto antes.
Amanhã volto, disse para mim. Já cá fora e depois do pânico, percebi que a situação estava longe de ser resolvida. Teria que voltar no dia seguinte, bem cedo!Ás sete e pouco da manhã já lá estava eu. E mais 10 nepaleses! Como já estava mais animado tive umas conversas agradáveis. Apesar de não ser fera em Nepales, já me vou safando sem a ajuda das minhas cábulas. Como o escritório só abriria ás 9horas e 30 minutos tive tempo para bastantes coisas, inclusive dormir.A espera até ser atendido foi passada a fazer a contagem decrescente para o meu número.
"Eight" - "Sou eu !!!!!". Pensava que a pior parte já tinha passado. Errado. Após uma meia hora a procurar não
encontraram os meus dados. "Not here". "Eu tenho reserva. Tem que estar. É este o voo".
Estupidamente não tinha fotocópia do bilhete (apesar das 30 vezes que me lembrei antes de partir) e encontrar o meu nome no voo de regresso estava difícil. Uma hora depois e nada!Resolvi contactar a Gulf Air Portugal para ver se me davam uma ajuda. Estou à espera!O segredo para não esperar muito é chegar cedo. Para tirar o visto indiano tive que esperar na primeira vez uma hora (e acho que fui a quinta pessoa a ser atendida). Hoje cheguei uma hora e meia antes de abrir. Fui a segunda pessoa mas mesmo assim estive uns 40 minutos para tratar de tudo. ???? . Logo vou buscar o passaporte e espero não ter que apanhar grande seca!
A palavra é mesmo: PACIÊNCIA!
Com isto tudo não parti para a aldeia ainda. Muito possivelmente amanha. Aproveitei para me perder pelas ruas da capital mas sinceramente já estou um bocado farto de vaguear por cá. O objectivo principal, voluntariado, ainda não foi cumprido. Em breve.Entretanto tenho tido grandes conversas com outros voluntários e viajantes. Terry, um simpático britânico com 60 anos e que já viu todas as bandas que eu nunca puderei ver (por terem acabado) apresenta-se em tal forma que acho que facilmente chegará aos 100. "It's the
beer, you know?".
Não gosto de fazer balanços. Muito menos quando as coisas ainda nem a meio vão. Posso dizer que apenas confirmei que existe tanto para ver neste mundo que não vale a pena ficar preso pelas influências sociais. É claro que existem prioridades, mas isso é outra conversa.
Como tenho passado mais tempo na Happy Home as crianças estão agora mais.. happy. Já dançam e cantam. Adoram quando chego e ofereço balões ou outro objecto mas uma banana ou algumas bolachas são para elas motivo de alegria. Estas crianças, posso dizer, são priviligiadas. São muito pobres. Nunca na vida teriam a oportunidade que estão a ter se não fosse a INFO Nepal. Apesar de ser um negócio (tema para conversa de café quando regressar), esta ONG está empenhada em ajudar. Neste momento estão a pagar estudos e melhores condições a 90 crianças. Apesar de nem tudo serem rosas, é obra!
Arrisquei numa noite de dança ao som da música tradicional deste país. Imaginem cantares ao desafio (uma arte portuguesa) mas noutra língua e com muito mais melodia. Apesar de estar "algo" sóbrio, diverti-me imenso com a cambada de bêbados que se tocavam com a maior das naturalidades. É o chamado choque cultural! Já estou habituado mas por vezes a situação passa o meu limite virtual. Tenho alguns conhecidos que gostariam de estar cá para "ver":)
Aventurei-me pelas ruas e comi em muitos cantos. Até agora nada de problemas com a flora intestinal. Não como carne há bastante tempo. Aliás, estou a adorar a comida nepalesa. Tenho que aprender para depois cozinhar para os meus amigos e os ver a comer com as mãos.
Já encontrei taxis com taxímetro a funcionar. Como agora conheço ligeiramente os cantos à casa sei que a diferença entre regatear e usar o fiável taxímetro é grande. No entanto estou longe de pagar 6 euros por uma corrida de 5 minutos em Braga!

Tuesday, May 16, 2006

Fotos (Parte 26)


Fotos (Parte 25)


Monday, May 15, 2006

Confidências

No Nepal os polícias andam de mão dada! Respeito acima de tudo!

No Nepal não existem Macdonalds nem KFCs!

Em Portugal o meu Porto fez a dobradinha!

Já comia uma bela feijoada!

Uma semana..

Longa semana esta que passou. Sete dias!!
Depois do regresso de Sanga fiquei mais animado. Não consigo concretizar o porquê de ter estado triste durante a minha estadia em Sanga. Mesmo rodeado por lindos montes e embriagado pelos sorrisos das crianças, foram três dias bastante difíceis. O isolamento deixou-me aterrado. Sufoquei mesmo quando o ar era puro e fresco.
A viagem para cá foi grande aventura também. Vou tentar viajar com cabras e galinhas ao meu lado quando apanhar o próximo pendular para Lisboa.
Como estava contente por estar de volta à "civilização" combinei com uns voluntários e uns quantos locais beber uns copos nessa noite. Ao conversar com búlgaras, eslvenas, britânicos, alemães e americanos apercebi-me mais uma vez de que existem bastantes diferenças entre os povos ocidentais. Apesar de todos os voluntários partilharem um conceito comum, a mente aberta, as ideias sociais impingidas pela sociedade em que vivemos estão presentes. É natural. Somos cultivados no nosso terreno, apenas! A naturalidade em aceitar coisas que para os mais conservadores se traduzem em "porquês" deixa-me abismado com o que conheço e o que está para conhecer. Fomos a um barzinho chamado Full Moon. Um conceito que em Braga até "botava remédio":) Almofadas por todos os lados. Calmo e com bom som. Agradável. Fui assaltado lá!! :) Gamaram-me o despertador (aka telemóvel). Eu, um gajo da Trofa e habituado a todo o de truques, fui "catado" nos quintos do crlh. Só a mim. Foi o truque mais velho do mundo. Perdi tempo a calçar-me e nunca mais o vi. :) Confesso que fiquei triste nessa noite. Já me tentaram assaltar umas 10 vezes em Portugal! Desta vez fui fraco.. (tive que gamar um logo a seguir!!! brincadeira..)
Na literal ressaca do dia seguinte descobri que não sabia onde tinha o bilhete de regresso. A somar com a noite anterior o dia prometia. Apesar de me tentar animar com a canalha na Happy Home o meu sentido de humor estava nulo.
Tive tempo para pensar. Reflectir. A estadia em Sanga foi agradável pelas diferenças sociais que pela primeira vez vivia mas foi também dura. Lembrei-me que numa das tardes dei por mim a olhar para o relógio e a contar os segundos. Não sabia (e ainda não sei) se seis semanas numa aldeia ainda mais remota me farão bem. Estava muito apreensivo! Demais para poder desfrutar de tudo o que ainda me estava a acontecer.
Nessa semana fui também a um hospital . Pelo menos o conceito inicial seria esse. Ao deparar-me com corpos empilhados em camas sem lençóis e outros tantos amarrados com correntes e (chamados "violent "), homens, mulheres e crianças misturadas e tratamentos apenas à base de medicação temporária (porque assim que os pacientes saem depois da estadia máxima de um mês deixam de receber cuidados médicos) percebi mais uma vez que a definição de país em desenvolvimento não é apenas um conjunto de palavras que se ouve no telejornal ou se lê em qualquer crónica mas sim algo que faz sofrer muita gente.
Perdi-me depois em Patan. Uma zona da capital com incontáveis templos hindus. Apesar de ter sido assediado por pseudo guias em troco de algumas foi grande momento porque estava a decorrer uma espécie de festival religioso em que quem apanhasse cocos enviados do cimo da uma grande árvore tipo "torre de Pisa" teria filhos recentemente. Extremamente perigoso
e altamente aconselhável!!!
Depois de umas 7 horas enfiado num autocarro a caminho de Chitwan tive de enfrentar uma data de gente que me jurava a pés juntos que "aquele resort" era o melhor da zona e que era muito barato. Depois lá encontrei o "meu gajo" que estava encostado no jeep como se nenhum autocarro tivesse chegado. Nepali way..
Nessa noite um Salgueirinho sóbrio dançou com os tradicionais Tharu frente a umas dezenas de turistas. Como perdi uns quatro quilos em semana e meia (apesar de comer bastante bem) as minhas bermudas teimavam em cair de cada vez que arriscava um golpe mais "artístico". Na viagem de regresso apanhei uns valentes sustos ao ver uns 6 camiões e autocarros caídos nas grandes colinas. Rezei.
Tinha visto uma data de flyers muito fixes. "Trance Party. Biggest Party Ever in Nepal!!"! Eu, como grande apreciador dessa arte musical em que o prazer extremo é apenas atingido, segundo dizem, utilizando substâncias menos legais (ou totalmente ilegais!) quis ver como era. Entrada gratuita! Como bom português que sou, se é de graça.. bota lá! "Sadomaso?? O que é isso?
de graça?? bamos!!" Era a véspera do aniversário de Buddha e eu queria mesmo ver o DJ Buddha em acção! Apesar do horário da festa - das 18h até às 23h da noite - pensei que ia ouvir grande som! Cheguei às 9 horas da noite. Pensei que fosse uma boa hora para chegar. O povo estaria a bombar e o ambiente caloroso como qual Boom Festival. Pois sim... Completamente vazio! O DJ Buddha estava bué triste porque ninguém apareceu. Eu mandei-o meditar e bazei.

No dia do aniversário do Buddha o ambiente na capital deixou-me espantado mais uma vez. Como tinha chovido de noite, o ar estava limpo e não havia o cheiro habitual do lixo. A movimentação de pessoas era inacreditável! Andar misturado com centenas de monges budistas orando em uníssono deixa qualquer um arrepiado.

Amanhã vou a outro orfanato.

O homem...

"If you're already there then there's nowhere to go
If you're cup's already full then its bound to overflow"

O homem vai estar em Lisboa e eu não vou estar em Portugal!! A vida tem destas coisas.

Sunday, May 14, 2006

Fotos (Parte 24)




 Posted by Picasa